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Quando acaba a gasolina

Imprevistos

Quando acaba a gasolina

  • Nelson Muniz Barretto
  • 09/fev/2017

Saí de Los Antiguos  na província de Santa Cruz, pela manhã, com destino a Cueva de las Manos, incrível parque arqueológico às margens do Rio Pinturas. Cheguei cedo e encontrei um  animado grupo de alemães que como eu, foram atraídos pela beleza do local e pelas interessantes manifestações artísticas desses caçadores coletores que ocuparam a região há 9.500 anos atrás. Conversamos um pouco e logo tomei meu caminho para Bajo Caracoles, onde havia um posto de gasolina.

O que não havia era gasolina e a informação de que chegaria em 4 dias não era nada animadora. Saí à procura desse precioso líquido tendo a sorte de encontrar uma família francesa que viajava pelas Américas e me cedeu 5 litros. Somado aos que ainda tinha, daria para chegar a Governador Gregores onde certamente encontraria gasolina.

Saí muito tarde e logo veio a noite. Para piorar levei um tombo e  tão cansado estava que tive que esperar um pouco para retirar as malas e levantar a moto.

Mais adiante a estrada piorou muito e o bom asfalto deu lugar a uma estrada de cascalho  solto difícil de caminhar.

Mais adiante um desvio, que aumentou a distância a percorrer e o combustível já não alcançaria.

Noite escura , estrada deserta  em região habitada por nhandus, guanacos e pumas.

Sem barraca, sem comida e já cansado, a idéia de encontrar um puma pelo caminho me preocupava.

Comedores de guanacos, esses lindos felinos mudariam o cardápio para provar um exótico motociclista?

Decidi continuar até onde a moto me levasse na certeza de que  quando acabasse a gasolina, estaria  ainda muito longe de qualquer cidade.

Por volta da meia noite, me deparei com uma placa que dizia que havia uma fazenda  de turismo a cerca de 1km.

Caminhei um pouco e encontrei outra  que dizia que estava há 4 km da fazenda.

Novas dúvidas surgiram, teria andado em sentido oposto por 3km? Não fazia sentido pois não me pareceu que havia andado tanto assim. Além de tudo a placa estava virada para mim e portanto aquela parecia ser a direção correta. Deveria haver ali alguma outra estrada e acabei vendo uma porteira. Abri com certo receio e segui por uma estrada menor e pior. Logo encontrei outra mais e mais outra até avistar uma luz bem longe. Onde há luz há alguma casa e para lá me dirigi, buzinando, para que não me tomassem por um bandido querendo chegar sorrateiramente.

Havia um senhor ao lado de uma árvore.

Tirei rapidamente o capacete, me desculpando por chegar àquela hora e contei sobre a placa.

Para meu alívio, ele disse que era aquele o lugar e que para minha sorte havia um único quarto disponível. Nem perguntei o preço.

Perguntou-me se eu havia comido alguma coisa e diante da negativa, sugeriu que deixasse minhas coisas no quarto e que fosse a um galpão onde me daria algo para comer.

Qual foi minha minha surpresa quando lá cheguei e encontrei o  mesmo grupo de alemães que havia encontrado em Cueva de las Manos. Havia música e me serviram um belo churrasco e um bom vinho. Cantamos  ao som do violão e comemos até a madrugada.

Conheci na ocasião Analia Charbonier, charmosa uruguaia que acompanhava o grupo e logo nos tornamos amigos compartilhando aquele momento mágico.

Pela manhã o Sr. Tonchi Kusanovic, um simpático descendente de croatas e proprietário da fazenda, me vendeu um pouco de gasolina e pude seguir viagem.

Deixei para trás a fazenda La Angostura com o sentimento de que o inesperado pode ser maravilhoso, quando acaba bem.