São tantos pela estrada, quase sempre em família.
Destinos variados, mesma história.
Tangidos pela fome e a miséria, caminham durante o dia e à noite, quando encontram um abrigo, descansam.
Buscam um mundo melhor em algum canto deste continente tão grande.
Estes vinham do Perú e iam para a Venezuela. Outros que encontrei pelo caminho, faziam o caminho oposto.
Todos entretanto, famintos e desprotegidos.
Exilados em seus próprios países que não conseguem prover para seu povos, o necessário para que vivam com dignidade.
São imigrantes que só levam a saudade pois, como diz uma música portuguesa, “ levam a saudade pois nem sabem se regressam”.
Andando por esta América tão diversa e tão imensa fica claro que o passado colonial, caracterizado por uma colonização de exploração, voltada á exportação para servir à Metrópole, impediu a consolidação de mercados internos que promoveriam o desenvolvimento e causou prejuízos que permanecem até os dias atuais.
Outro traço comum é a ocupação das terras concentradas na mão de uma elite mesmo após a descolonização.
Em decorrência disso temos as desigualdades econômicas e sociais.
Correr os olhos pelos vales e montanhas, pelos desertos e selvas, pelo Atlântico e o Pacífico e suprimir desse contexto os povos e suas mazelas é ingenuidade ou mesmo maldade.
O passado pré colonial de grande parte desses povos é colossal e do pouco que conheci das culturas Nazca e Parara, percebi que os colonizadores não apenas dizimaram seu povos como também destruiram suas culturas e enterraram o conhecimento que possuíam.
Visitei em Nazca os aquedutos de Cantalloc, construídos com pedras e troncos de Huarangos há 1500 anos, que levam a água subterrânea para as planícies áridas onde plantavam batata e algodão.
São canais subterrâneos, alguns com 12 metros de profundidade que percorrem quilómetros. Mais de trinta deles ainda funcionam.
Passados 1500 anos é triste constatar que o povo que por lá vive atualmente, não consegue encontrar solução para o tratamento do lixo e simplesmente o despeja ao longo das estradas , por centenas de quilómetros.
Creio que não há muita novidade em tudo o que contei. Outros escreveram sobre esses temas com muito mais conhecimento e profundidade.
São apenas constatações deste viajante já com quase 72 anos que anda percorrendo este mundo em uma motocicleta com o mesmo encantamento e perplexidade de sempre.
Graaande Nelson, muito bem colocado o seu texto. Desejo muito sucesso e alegrias em sua viagem.
Tivemos o prazer de nos encontrar em San Pedro de Atacama início de maio.