O segundo acidente

Imprevistos

O segundo acidente

  • Nelson Muniz Barretto
  • 07/jul/2023

Passear pelas ruas de Antigua na Guatemala, é como voltar ao passado, pois a arquitetura colonial espanhola está presente e bem conservada. O calçamento das ruas é de pedra e há lugares interessantes por toda parte.

Com um belo dia de sol caminhei sem pressa e procurei um hotel visto na noite anterior que prometia  para o café da manhã, um mingau de aveia da vovó. Do alto do terraço onde serviam o café ,se avistava grande parte da cidade e à sua volta os morros imponentes com alguns vulcões. Seria sem dúvida uma despedida maravilhosa daquele país que tão bem me acolheu e encantou. O destino nesse dia seria o México, deixando  Antigua e mais um país para trás e um novo continente para ser descoberto. Dia de passar mais uma fronteira o que significava não ter pressa pois tudo pode acontecer e assim pensando, desfrutei daquele mingau maravilhoso e peguei a estrada rumo à  Quetzaltenango. Nem bem começou a viagem e me encontrei em um entroncamento onda o GPS indicava que deveria cruzar a pista dupla  e  seguir na pista contrária à esquerda. Cruzamento precário mas com muitas marcas de pneus que indicavam que era o correto a ser feito. Nenhuma placa que dizia o contrário e assim , com muito cuidado, esperei que não viesse nenhum veículo do meu lado e depois de um ônibus na pista oposta avancei. Já estava do outro lado quando senti um forte impacto. Fui arremessado para o alto e cai no meio da pista. Entendi que meu sonho se acabava naquele momento e percebi que também minha vida  corria risco, pois estava no meio de uma pista de grande movimento. Apesar das dores consegui levantar-me e rapidamente cheguei ao que deveria ser o acostamento. Minha moto destruída e também o carro que me atropelou. Indignado dirigi-me à motorista que ainda estava dentro do carro e perguntei.”Você queria matar-me?”.

Logo mais começaram a chegar muitas pessoas e um senhor  de nome Carlos sugerir que eu recolhesse minha bagagem espalhada pela pista e a guardasse em sua casa que era exatamente em frente ao local do acidente. Logo chegou a polícia e um policial que viu eu guardar minhas coisas na casa do senhor Carlos disse que eu não podia entrar em sua casa e disse que ele seria cúmplice de um crime  por permitir que eu entrasse em sua casa. 

Sem perguntar como eu estava, pediu meus documentos e disse que eu seria preso pois havia uma vítima. Expliquei que eu também era uma vítima e que nada indicava que eu tivesse cometido alguma infração. Eles começaram a fazer perguntas como nome dos pais, endereço e demais coisas sem importância naquele momento e eu insistia que chamassem uma ambulância pois sentia muitas dores e temia uma hemorragia interna. Naquele momento eu não sabia, mas tinha três dedos quebrados e o ligamento do joelho parcialmente rompido.

Pediu meu passaporte para anotar os dados e disse que ficaria com ele. 

Foi aí que me dei conta de tudo o que poderia acontecer comigo num país estrangeiro com passaporte confiscado e com uma outra vítima da qual não sabia o estado em que se encontrava. 

Estava claro que deveria reaver meu passaporte e aproveitei a oportunidade quando eles começaram a manusear meu passaporte  e vários documentos começaram a cair no chão.. Expliquei que havia vários documentos  na capa  do passaporte e tomei o passaporte de suas mãos.

Disse que o passaporte ficaria comigo pois  como estrangeiro deveria estar em minha posse e se insistissem chamaria a embaixada de  meu país para denunciar o abuso. 

Eu insistia que me levassem a um hospital e para minha sorte uma jovem bombeira me afastou do local e me levou para uma ambulância que ali chegara. Fomos, a motorista, sua irmã e eu para um posto de saúde bastante precário onde tomaram minha pressão e um raio x do pulmão e me liberaram. Consegui conversar com o cunhado da motorista e combinamos que cada um arcaria com seu prejuízo e ainda cheio da dúvidas a respeito de minhas condições de saúde fomos para a delegacia para tentar liberar o carro e a moto. Tivemos que contratar um advogado para redigir um documento que protegesse a ambos do ponto de vista jurídico com relação ao acidente. Apesar de toda a confusão, percebi que aquelas pessoas era boas e que estavam igualmente assustadas. Paola a motorista, era a mais fragilizada e falava pouco. Saímos da delegacia ao final da tarde e fomos comer qualquer coisa pois  estávamos famintos. Lá estava eu com toda a família e desde esse dia nos tornamos muito amigos. No dia seguinte me levaram juntamente com a moto para a Cidade da Guatemala, onde deixei a moto para arrumar. Voltei ao Brasil para cuidar de meus ferimentos e mantive com essa família um contato próximo e frequente. Voltei depois de dois meses à Guatemala mas dessa vez com a Lena e a Stefanie e visitamos o país por 15 dias. Depois disso Lena e eu seguimos para o México com a certeza de que havíamos feito novos queridos amigos. Vale contar que eles vieram ao Brasil  este ano, por insistência minha e passamos maravilhosos dias juntos. 

Sempre brinco com a Paola, a motorista dizendo que por culpa dela é que essa amizade começou. Sua irmã Fabíola e seu cunhado Eric são amigos próximos e queridos que espero conservar por toda a vida.

  1. E já estamos nos preparando pra continuar esse desafio.
    Dia 13 chegaremos a Calgary, Canadá, de onde sairemos rumo Anchorage.
    Vamos?

  2. Como a vida e bela, de um acidente onde geralmente só tiramos coisas ruim nasce uma amizade para a vida toda, como seria melhor o mundo se todos tivessem esse tipo de atitude, fiquei muito emocionado com atitude de ambos.

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